05 fevereiro 2013

Das épocas que não sentia...

Não sinto sono porque já não sinto nada há muito tempo.
Não sinto frio nos dias de inverno
nem calor nos mais quentes dias de verão.
Não sinto sede se corro
não sinto fome se acordo.
Nem fome se trabalho, nem fome se vivo, se respiro.
Já não sinto o ar, não sinto o vento nem sinto a água da chuva.
Perdi o tato e perdi o paladar.
Perdi o olfato e perdi a visão.
Me resta agora uma memória quase desmemoriada
Me resta agora um coração.
E eu já não sei
Nao sei se quero fazer esse coração bater.
Vai doer e vai arder
Vai coçar e bater mais forte
E vai ser cada vez mais intenso.
Não sei se estou preparado para escrever.
Não sei se estou preparado para voltar a viver.
Posso sentir, nesse exato momento, um bater descompassado
Desacelerado, fraco, frágil, totalmente fora de ritmo
Um passista que se perdeu na avenida
Um violino que estoura a corda
Perde totalmente o ritmo da sinfonia, da ópera, da vida.
Tão frágil que qualquer sentimento o fará parar.
Uma parada brusca, de susto.
Já não sinto medo
se me apontoam uma arma, se atiram,
se sangro, se me machucho.
Já não sou mais tão humano.

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